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terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Canto dentro das palavras - Manoel de Barros






A Dica de Leitura desta semana tem mais de uma sugestão de obras. Todas do escritor Manoel de Barros. Siga a dica e delicie-se!

Para o poeta Manoel de Barros, a linguagem é mais importante do que as ideias. E despraticar a norma é uma virtude em poesia. Manoel de Barros nasceu cuiabano, mas com um ano de idade já era pantaneiro. Seu pai comprara uma fazenda, e ali Neco cresceu, entre o gado, a lida dos vaqueiros, a natureza exuberante do Pantanal e as "desimportâncias". Conforme relata: "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, dos caramujos, das largatixas. "Era o apogeu do chão e do pequeno".

Depois de estudar em internato no Rio de Janeiro, onde se encantaria com Padre Vieira e Rimbaud, e de passar um ano em Nova York, onde estudaria cinema e artes plásticas, Manoel de Barros enfiou-se no Pantanal, em 1949, para tornar-se fazendeiro, sem deixar de publicar seus livros, que já passam de duas dezenas. Em 1969, recebeu o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra Gramática Expositiva do Chão, e, em 1997 O Livro Sobre Nada recebeu o Prêmio Nestlé. No ano seguinte, receberia o Prêmio Cecília Meireles, concedido pelo Ministério da Cultura.

Quatro livros de Manoel de Barros fazem parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca da

Escola ( PNBE): Poeminhas Pescados numa fala de João (Ed. Bertrand Russeal), Memórias Inventadas para Crianças - A Segunda Infância (Ed. Planeta Jovem) e Poemas Rupestres (Ed. Best Seller), ambos de 2006. Manoel de Barros não gosta de gravadores e nem de computadores. Nem usa um deles para escrever sua obra. "Sou metido. Sempre acho que, na ponta do meu lápis tem um nascimento." E tem, como se vê neste poema:


Brincadeiras

No quintal, a gente gostava de brincar com palavras

mais do que de bicicleta.

principalmente porque ninguém possuía bicicleta.

A gente brincava de palavras descomparadas. Tipo assim:

o céu tem três letras,

o sol tem três letras,
o inseto é maior.

O que parecia um despropósito

para nós não era despropósito.

por que o inseto tem seis letras, e o sol só tem três,

logo o inseto é maior. (Aqui entrava a lógica?)

Meu irmão, que era estudado, falou: "Que lógica que nada, isso é um sofisma."

A gente boiou no sofisma.

Ele disse que sofisma é risco n'água. Entendemos tudo.

Depois Cipriano falou: "Mais alto que eu, só Deus e os passarinhos".

A dúvida era saber se Deus também avoava ou se Ele está em toda parte

como a mamãe ensinava.

Cipriano era um indiozinho guató que aparecia no quintal, nosso amigo.

Ele obedecia à desordem.

Nisso apareceu meu avô.

Ele estava diferente e até jovial.

Contou-nos que tinha trocado o Ocaso dele por duas andorinhas.

A gente ficou admirado daquela troca.
Mas não chegamos a ver as andorinhas.

Outro dia, a gene destampamos a cabeça de Cipriano.

Lá dentro só tinha árvore, árvore, árvore.
Nenhuma ideia sequer.

Falaram que ele tinha predominâncias vegetais do que platônicas.

Isso era.


Fonte: BARROS, Manoel de. Memórias inventadas para crianças. Planeta do Brasil, PNBE/2005, acervo 13.

Revista Construir Notícias, nº 50, ano 09, janeiro/fevereiro de 2010. Págs. 15 e 16

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